Compra de jogos no Brasil: o que vai mudar nos próximos meses

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(Fonte da imagem: Reprodução/Shutterstock)

Se você acompanhou a cobertura do Baixaki Jogos na Brasil Game Show 2012, a maior feira de jogos eletrônicos da América Latina, você deve ter percebido que uma coisa ficou bem clara: o mercado de games em nosso país está crescendo — e em ritmo acelerado.

Recentemente, fizemos um artigo sobre como anda o mercado de jogos no Brasil, abordando temas mais voltados para a indústria — incluindo o aumento das vendas e faturamento do setor, o surgimento de dezenas de novas empresas no ramo nos últimos anos e até o desenvolvimento de mais cursos técnicos para a criação de games.

Desta vez, mudamos o foco da pesquisa para os consumidores finais. Neste artigo, vamos tratar de assuntos que giram em torno daquilo que mais nos interessa: o preço!

Mercado em ascensão

Durante a BGS 2012, a equipe do BJ realizou uma série de entrevistas com representantes de importantes desenvolvedoras e distribuidoras de jogos no mundo, incluindo:

Entre assuntos específicos de cada uma dessas empresas, as conversas que tivemos convergiram para a unanimidade de que o mercado brasileiro de jogos é um dos que mais cresce no planeta e que deve continuar apresentando um crescimento significativo nos próximos anos.

A economia saudável do Brasil, que tem resistido sem “grandes” danos à crise financeira que assola nações que há pouco tempo eram consideradas grandes potências, ofereceu o suporte necessário para que esse setor ganhasse a força que tem hoje. Após essas entrevistas, pudemos comprovar que o mercado brasileiro está em destaque lá fora e tem atraído os olhares das grandes produtoras.

Conteúdos para brasileiros

Prova disso é que a maioria dos entrevistados — para não dizermos todos — afirmam que suas empresas possuem planos de investir mais no Brasil, principalmente em conteúdos regionalizados.

E nós já podemos ver o resultado disso com alguns dos títulos mais recentes oferecendo legenda ou dublagem em português, como é o caso de Call of Duty: Black Ops 2, Max Payne 3 (que inclusive tem sua trama desenrolada em nosso país), Uncharted 3, Diablo 3, Assassin’s Creed 3, entre muitos outros.

(Fonte da imagem: Divulgação/Rockstar)

Esse parece ser um caminho certo para conquistar os consumidores brasileiros. A Ecogames, representante das distribuidoras Square Enix, Bethesda, THQ e Nanco Bandai no Brasil, pretende divulgar com maior intensidade na mídia nacional (e o BJ deve participar dessa divulgação) o oferecimento de, por exemplo, DLCs e novos mapas que ofereçam conteúdos adicionais — obviamente com maior destaque para aqueles que foram produzidos especificamente para o público tupiniquim.

Conforme conversa por telefone que tivemos com Marcos Prudêncio, da Ecogames, a ideia dessa iniciativa é incentivar que os jogadores adquiram os games originais para terem acesso aos conteúdos exclusivos — mais uma interessante maneira de combater a pirataria e o contrabando de jogos.

A nova tendência de vendas

Exposto o momento favorável do mercado de games no Brasil, chegou a hora de começarmos a falar do que está mudando e o que devemos esperar nos meses subsequentes no que se refere à compra de jogos. Uma forte tendência é a popularização ainda maior de serviços de distribuição digital.

Os maiores exemplos desse tipo de serviço são o Steam e o Origin, a loja virtual exclusiva da EA. Esse tipo de mecanismo de venda tem suas vantagens, pois o corte de custos com a impressão de encartes e de uma mídia física permite que a produtora consiga oferecer jogos com preços mais baixos do que os encontrados em lojas tradicionais.

A possibilidade de baixar os games nas datas dos seus respectivos lançamentos é mais um grande atrativo. O Origin há algum tempo já disponibiliza todo o seu conteúdo traduzido para o português e os preços em real. Para não ficar para trás e aproveitar o crescente mercado brasileiro, a Valve também pulou nesse barco e passou a vender em nossa moeda local desde o dia 6 de novembro.

(Fonte da imagem: Reprodução/Steam)

É válido salientar que no caso do Steam não houve apenas uma conversão de dólar para real, mas há inclusive um reajuste cambial. Na prática, isso significa que jogos que custam originalmente US$ 60 podem ser vendidos aqui por preços inferiores aos R$ 120 que uma simples conversão ofereceria.

Essa tendência não se restringe aos serviços de empresas especializadas nesse modelo de negócio ou de uma produtora específica. As responsáveis por consoles também estão abrindo os olhos para os consumidores tupiniquins lançando suas lojas virtuais brasileiras e recheando-as com títulos de primeira linha, sendo a PlayStation Network e o Xbox Live as maiores referências disso — embora não possamos esquecer que a central de games do Wii U está vindo aí.

Nesse cenário, a concorrência aumenta bastante e os meios de distribuição também, criando a expectativa de novos esforços das distribuidoras para oferecer jogos com preços ainda mais baixos e promoções arrasadoras.

Há a possibilidade de preços mais baixos?

Tudo bem: o mercado está aquecido, as empresas de games estão de olho no Brasil e a tendência dos jogos digitais possibilita, em teoria, a redução de custos para as produtoras e distribuidoras. Mas existe a real possibilidade de os preços dos jogos baixarem em nosso país?

Infelizmente, até o momento ninguém tomou para si a responsabilidade e garantiu que haverá uma queda nos preços. Contudo, existem algumas iniciativas visando reduzir os encargos tributários (que podem passar de 72,8% do preço do jogo) para que até mesmo os games comercializados em mídias físicas tenham valores mais competitivos.

(Fonte da imagem: Divulgação/Acigames)

A campanha mais famosa nos últimos anos foi o Jogo Justo — projeto criado por Moacyr Alves e que acabou originando a Acigames (sigla para Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games).

Conforme explicitado em seu site oficial, os representantes desses projetos, que parecem caminhar em paralelo mas com a mesma finalidade, têm se encontrado com governantes para discutir maneiras de mapear de maneira mais precisa o mercado de jogos no Brasil, mecanismo de regulamentação e o abatimento de impostos.

Embora essas reuniões pareçam estar caminhando bem, nada de concreto sobre alguma medida que tenha impacto direto nos preços dos games foi divulgado pelo governo ou pela Acigames. Muitos dos representantes que entrevistamos na BGS 2012 também se mostraram abertos para colaborar com a redução dos preços caso sejam reduzidos os encargos tributários.

Conversando com quem entende do assunto

Para dar um embasamento mais aprofundado para o artigo, fomos atrás de alguém que pudesse nos passar a visão das desenvolvedoras e distribuidoras de jogos sobre o mercado brasileiro. Para tanto, entramos em contato com Bertrand Chaverot, diretor de marketing da Ubisoft, e fizemos algumas perguntas para ele.

(Fonte da imagem: Divulgação/Ubisoft)

Como está a atual situação do mercado de games no Brasil

Segundo Chaverot, o mercado brasileiro está atrasado, mas está recuperando o tempo perdido. A chegada do Xbox 360 ao Brasil esquentou o mercado e promoveu um grande incentivo para as produtoras. Para ele, os video games serão o maior setor da indústria no Brasil em 2012, seguidos dos tablets em segundo e smartphones em terceiro.

A indústria de games no país tem muito potencial, e tudo o que vimos até agora é só o início. Prova disso é o crescente aumento do número de consoles vendidos em terras tupiniquins. No ano de 2010, foram comercializados aproximadamente 1,5 milhão de consoles, enquanto em 2011 essa marca passou para 3 milhões. A expectativa para 2012 é que esse dado fique entre 4,5 e 5 milhões de unidades.

Qual é a expectativa para o mercado brasileiro de jogos em 2013

As expectativas de Bertrand Chaverot para o mercado brasileiro em 2013 são otimistas. O executivo aguarda pela chegada da Sony com a produção do PlayStation 3 e a venda de mais de 7 milhões de consoles. Com isso, o Brasil deve entrar na lista dos cinco países que mais compram jogos no planeta. Hoje, nós ocupamos a 7ª colocação.

Contudo, ele ressalta que o nosso mercado tem muito a crescer, se comparado, por exemplo, ao público dos EUA, que conta com 100 milhões de consoles.

Expectativa de redução de custos proporcionada pela redução de impostos e taxas de importação

O diretor de marketing da Ubisoft nos confessou que é difícil prever o que pode acontecer no Brasil no tocante a incentivos fiscais. “Não tenho bola de cristal”, comentou ele de maneira bem-humorada. Para Chaverot, a produção local do PS3 pode servir como mais um motivo para a redução dos impostos.

Além disso, quando o governo se der conta do tamanho do mercado de games no país e fizer os cálculos, verá que é possível crescer e lucrar muito mais com a redução dos impostos.

Previsão de redução dos preços dos jogos para o público brasileiro

Perguntamos a Bertrand Chaverot se existe alguma previsão de diminuição dos preços mesmo sem um incentivo fiscal, e ele nos respondeu que a Ubisoft está sempre tentando reduzir os preços dos jogos, diminuindo a margem de lucro e pressionando o varejo para cumprir a tabela planejada. Na outra ponta, o consumidor tem mostrado apoio e mostrado para a empresa que tal esforço é válido.

O público tem percebido esse compromisso e não tem comprado em lojas que estejam vendendo o produto mais caro. Grandes varejistas costumam respeitar e isso é o principal incentivo para que essa política de preços continue. Aliás, quem quiser ajudar pode indicar pela página da Ubisoft no Facebook estabelecimentos que estejam vendendo os jogos tabelados por um valor mais alto.

(Fonte da imagem: Divulgação/Ubisoft)

Prova mais recente desse empenho da Ubisoft foi o lançamento do Assassin’s Creed 3 a R$ 179, enquanto outros títulos de peso anunciados no mesmo período chegaram às prateleiras por R$ 199, como o Call of Duty: Black Ops 2.

O executivo ainda revelou que Far Cry 3 poderá ser lançado por R$ 149 e reforçou que a desenvolvedora quer garantir que esse valor seja cumprido; para isso, a empresa está buscando mais espaço nas lojas para divulgação e testes dos games.

Aumento das vendas digitais x redução dos preços

Na visão de Chaverot, quando perguntado se havia um planejamento para aumentar as vendas digitais de jogos e se isso poderia colaborar com a redução dos preços, o mercado físico é muito importante, principalmente no Brasil — onde as pessoas ainda preferem ter a caixinha como recordação. Outra vantagem em ter o jogo em um disco é que ele também pode ser emprestado, revendido ou trocado por outro título.

Por sua vez, o meio digital tem como lado positivo a distribuição imediata em qualquer lugar, algo importante em um país do tamanho do Brasil. A Ubisoft tem procurado firmar parcerias com Nuuvem, Steam, PSN e Xbox LIVE para disponibilizar rapidamente os seus jogos. Contudo, em nosso país ainda é importante manter as duas modalidades.

Conteúdos regionalizados para o Brasil

Perguntamos ao executivo se a produção de conteúdos regionalizados, como versões com legendas e até dublagens em português, seria uma alternativa para incentivar o aumento das vendas de games no Brasil e se existem planos da Ubisoft para esse tipo de conteúdo.

Bertrand Chaverot disse que “regionalizar” os jogos é um dos pilares da empresa na atualidade, a qual pretende que todos os seus títulos cheguem ao Brasil com conteúdos específicos para os brasileiros e pelo menos com legendas.

No caso das dublagens, a situação é um pouco mais complicada, pois poucas empresas por aqui são capazes de fazer trabalhos de tal magnitude com a qualidade esperada pela desenvolvedora.

Para o Assassin’s Creed 3, por exemplo, a Ubisoft liberou R$ 500 mil para a realização da dublagem. Porém, o resultado ficou abaixo da expectativa. Para que o lançamento não fosse atrasado em terras tupiniquins, o game foi anunciado apenas com legendas. As vozes em português serão disponibilizadas mais tarde como DLC.

O mercado nacional dessa área ainda é jovem e as empresas do ramo ainda estão aprendendo a lidar com a regionalização. O importante é que todos caminhem na mesma direção e busquem equiparar lançamentos e qualidade às dos Estados Unidos e Europa. O mercado brasileiro merece isso, mencionou o executivo.

A intenção é fazer com que o mercado nacional tenha a mesma importância e poder de negociação que o europeu, onde todos os jogos devem chegar na língua do país em que são lançados.

(Fonte da imagem: Reprodução/iStock)

É difícil saber qual a influência exata da dublagem nas vendas dos jogos, mas há estimativas de que conteúdos regionalizados afetem as vendas de um jogo em aproximadamente 30%. O principal efeito da regionalização é a propaganda boca a boca, o que ajuda a multiplicar as vendas de games no Brasil a cada ano.

Dados da comercialização da franquia Assassin’s Creed mostram bem o crescimento que o nosso mercado está tendo. O AC2 teve 10 mil unidades vendidas por aqui, enquanto o Brotherhood atingiu 50 mil pedidos e o Revelations bateu a marca dos 150 mil. A expectativa para o AC3 é ainda melhor: 300 mil unidades.

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