Google ou Facebook, quem vai dominar a internet dos céus?

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Drones podem, em breve, oferecer conexão com a internet em vários rincões do planeta. (Fonte da imagem: Divulgação/Titan Aerospace)

A Google e o Facebook parecem estar próximos de travar uma nova batalha que envolve a internet, mas dessa vez fora dos computadores. São dois projetos, um confirmado e já em testes (o da Google) e outro que ainda não passa de uma possibilidade (o do Facebook), com a mesma finalidade: levar internet para lugares sem infraestrutura.

A hipótese de concorrência entre duas das mais bem-sucedidas companhias da atualidade aumentou nas últimas semanas, quando começaram a circular rumores de que o Facebook estaria negociando a compra da Titan Aerospace. A empresa é uma conhecida fabricante de drones movidos a energia solar.

A ideia vem ao encontro do interesse de Mark Zuckerberg de levar a internet para todos os lugares do mundo, revelado recentemente com a divulgação do projeto Internet.org, que reúne ainda outras gigantes da tecnologia. Enfim, eis aí uma disputa que deve ganhar novos campos de batalha entre Facebook e Google.

Loon: os balões da Google

O projeto da Google chama-se Loon e tem a intenção de colocar balões meteorológicos com ar quente flutuando na estratosfera (a 20 km de distância do solo). Os objetos flutuantes terão 15 metros de diâmetro cada, com a capacidade de oferecer conexão 3G para uma área de aproximadamente 40 km de diâmetro.

(Fonte da imagem: Reprodução/Site oficial)

A internet transmitida por ele seria recebida na terra por meio de uma antena especialmente desenvolvida para isso. Para se locomover, o Loon faria uso das diversas camadas de ventos existentes na estratosfera, sendo levado para onde fosse necessário. O projeto está em fase de testes desde junho de 2013, funcionando de modo experimental na região de Canterbury, Nova Zelândia.

Solara 60: a aposta de Zuckerberg

Ao que tudo indica, Mark Zuckerberg segue adiante com seu projeto de levar internet para todos os cantos do mundo. O Facebook parece estar em negociação para comprar a fabricante de drones Titan Aerospace por US$ 60 milhões (troco de pão se lembrarmos dos bilhões investidos no WhatsApp).

Concretizada a aquisição, toda a produção da Titan deve ser direcionada ao projeto Internet.org. Ao todo, seriam produzidos inicialmente 11 mil drones do modelo Solara 60, equipamentos com largura de asas de cerca de 50 metros e pouco mais de 15 metros de comprimento, com área de cobertura de 16,8 mil quilômetros quadrados (o alcance de 100 torres de transmissão de telefonia móvel).

(Fonte da imagem: Divulgação/Titan Aerospace)

Os drones, que são abastecidos com energia solar, também flutuariam na estratosfera e usariam as mesmas correntes de vento para se movimentar de um lugar para outro. Ao que tudo indica, a ideia inicial seria sua utilização em regiões da África, mas pouco se sabe de fato sobre os rumos do projeto Internet.org.

Drones: praticidade vs. histórico negativo

Pensando no recente uso de drones para fins militares no Oriente Médio, onde esse tipo de equipamento tem causado inclusive a morte de civis, gerando reações da Anistia Internacional e das Nações Unidas, o projeto do Facebook pode enfrentar certa resistência em várias partes do mundo.

Além disso, a utilização de espaço aéreo de outros países pode ser interpretada como desrespeito à soberania nacional, como aponta o engenheiro aeroespacial Iain McClatchie, que já trabalhou em projetos da Google relacionados ao uso de drones. “Tudo o que entrar no espaço aéreo da China vai terminar no solo”, brinca McClatchie — e provavelmente drones estrangeiros sobre os Estados Unidos teriam o mesmo fim.

O fato de drones também serem usados para a guerra pode dificultar a vida do Facebook. (Fonte da imagem: Noah Shachtman)

Contudo, em entrevista ao The Verge, McClatchie revela que esses dispositivos são mais fáceis de serem trazidos ao solo para manutenção ou atualização. A capacidade técnica dos drones também acaba levando vantagem em relação aos balões: o Solara 60 poderia transmitir dados em até 1 Gbps, ou seja, velocidade bastante superior ao 3G oferecido pelo Loon.

Além disso, enquanto os balões da Google teria que ser substituídos a cada 100 dias, os drones permaneceriam na estratosfera por um período superior a cinco anos. Entretanto, outro contratempo seria o caso de um desses equipamentos enormes sofrerem falhas e caírem em áreas povoadas, o que poderia causar graves acidentes.

Balões: preços vs. durabilidade

O uso de balões meteorológicos pode ser muito mais facilmente aceitável por outros países do que drones, isso é fato. Além disso, uma vantagem apresentada por esse tipo de equipamento está no custo. “Os balões atuais são muito mais baratos do que drones, apesar de sua parte eletrônica continuar bastante cara”, afirma McClatchie.

Além disso, vale lembrar que os equipamentos estarão flutuando pela estratosfera, o que sem dúvida nenhuma pode ocasionar falhas e perdas. Assim sendo, se o investimento em cada item flutuante é menor, o prejuízo em caso de dano também será menor.

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Um contratempo dos balões está no material utilizado para a sua fabricação, que os expõe a riscos. “Os balões meteorológicos que eles [a Google] estão usando são muito finos e se desgastam muito rápido. Como você não pode prever quando isso [o desgaste] vai acontecer, muitos balões terminarão no oceano”, garante o engenheiro.

Apenas boas intenções?

Mas será apenas a boa intenção de oferecer internet para os rincões do planeta, da América do Norte à Ásia, que move os interesses de Google e Facebook? Logicamente que não, afinal ambas são empresas e demandam lucros, algo normal para quem está inserido no mercado.

Entretanto, analisando as recentes colaborações de ambas as companhias com projetos que violam a privacidade de pessoas de várias partes do mundo, como o PRISM, algumas suspeitas também pousam sobre projetos como esse. Nesse panorama, questionar uma possível invasão de privacidade não é uma paranoia conspiratória.

De qualquer forma, parece ser só questão de tempo para que grandes corporações comecem a explorar outras áreas para transmitir internet. A ideia é boa, mas resta saber se sua execução respeitará os usuários e as legislações nacionais e também não vai configurar em megaoligopólios transnacionais no fornecimento de conexão com a internet.

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