Como os computadores estão tentando prever o futuro da humanidade

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É comum e frequente que especialistas e cientistas tentem adivinhar como será o mundo daqui a cinco, dez anos. Há previsões do futuro para quase tudo: computadores, jogos, sala de estar, combustíveis, bicicletas, elevadores espaciais e o que a imaginação permitir.

Embora muitas dessas previsões tenham se confirmado, várias delas podem ter pouco embasamento, funcionando mais como adivinhações. Isso porque as pessoas que tentam antever o futuro procuram no presente seus argumentos para espreitar o que virá pela frente, mas não sabemos até que ponto esses dados funcionam de forma relevante.



Computadores conseguem analisar dados de forma mais precisa, e por isso, a tarefa de analisar o presente e prever o futuro pode agora estar nas mãos deles. Com capacidade gigantesca de memória e processamento, os supercomputadores podem esmiuçar milhões de notícias e descobrir para qual caminho a humanidade e o planeta estão seguindo.

Assim como economistas preveem o futuro do mercado e meteorologistas preveem o do tempo, esses computadores poderão descobrir eventos mundiais antecipadamente.

Nós noticiamos aqui no Tecmundo, em agosto de 2009, que logo poderemos saber com grande antecedência as tendências de décadas à frente. Dois anos depois, essa transformação está começando. Descubra agora a maior revolução na área da adivinhação, desde o lançamento do horóscopo.

Rastreando os passos humanos

Depois de ser revelado ao mundo o software-jornalista que escreve notícias, chega agora outra inovação tecnológica mudando a forma do jornalismo: um software que lê notícias. Mas ele é bem mais que um leitor de informações.

Kalev Leetaru, da Universidade de Illinois, anunciou que o supercomputador SGI Nautilus pode analisar notícias para prever grandes eventos mundiais. Por enquanto, o tipo de análise que ele usou para o experimento foi retrospectivo (analisando fatos que já aconteceram), alimentando o computador com milhões de artigos.

Um manifestante segura uma bandeira egípcia durante os protestos no Egito. (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)O Nautilus foi capaz de prever com sucesso um sentimento de revolta nacional na Líbia e Egito, antes de acontecerem as revoluções nesses países. O sistema também conseguiu prever aproximadamente a localização de Osama Bin Laden, antes que ele fosse encontrado e morto no ano passado.

Foram usados para essas previsões mais de 100 milhões de artigos, analisados a partir de várias fontes, incluindo os arquivos do The New York Times, do Open Source Center e da BBC Monitoring. O Nautilus averiguou dois tipos principais de informação: o humor – se o artigo representava boas ou más notícias; e localização – onde os eventos estavam acontecendo.

A detecção de humor, ou “Mineração Automática de Sentimentos”, pesquisa por palavras como “terrível”, “horrível” ou “legal”. A localização, ou “Geocodificação”, menciona lugares específicos, como “Cairo” e converte-os em coordenadas para que possam ser plotados em um mapa. Esses dados são cruzados e a análise dos elementos das notícias é usada para criar uma rede interligada de 100 trilhões de relacionamentos entre eles.

O próximo passo de Leetaru é desenvolver tecnologias que permitam que esse sistema preveja grandes eventos mundiais, e não apenas analise-os após o fato. Assim como algoritmos de previsão econômica e de meteorologia, o Nautilus não terá 100% de acerto, mas usá-lo é muito melhor do que ficar apenas adivinhando.

Simulando a Terra

Em outra frente, um grupo internacional de cientistas está tentando criar um simulador que possa reproduzir tudo o que acontece na Terra, desde padrões climáticos globais e propagações de doenças até transações financeiras internacionais ou congestionamentos em estradas.

Apelidado de Living Earth Simulator (LES) ou “Simulador de Vida na Terra”, o projeto visa promover a compreensão científica do que está ocorrendo no planeta, englobando as ações humanas que as sociedades realizam e as forças ambientais que definem o mundo físico.

Para o Dr. Helbing, membro do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça e presidente do projeto que visa criar o simulador, muitos dos problemas que temos hoje – inclusive instabilidades sociais e econômicas, guerras e doenças – estão relacionadas ao comportamento humano.

Os cientistas sabem hoje mais sobre o universo do que sobre nosso próprio planeta. O LES seria uma resposta a esse problema, sendo capaz de prever a propagação de doenças infecciosas, como a gripe suína, identificar métodos de combater as alterações climáticas ou mesmo apaziguar uma eminente crise financeira.


Para funcionar, o LES precisará de dados de inúmeras fontes que cobrem todas as atividades no planeta. Ele também será alimentado por um conjunto de supercomputadores que será capaz de realizar cálculos numéricos em uma escala gigantesca.

Além disso, serão usadas mais de 70 fontes de dados online, incluindo Wikipedia(!), Google Maps e dados do governo do Reino Unido. Também serão integrados a esses dados milhões de outras fontes em tempo real, desde informações dos mercados financeiros e registros médicos até mídias sociais.

O próximo passo será criar um quadro para transformar o emaranhado de informações em modelos, que vão reproduzir com exatidão o que acontece na Terra hoje. Isso só será possível reunindo cientistas sociais e da computação e engenheiros para estabelecer as regras que definirão como o LES vai operar.

Não basta apenas assimilar vastos oceanos de dados: o LES também terá que, simultaneamente, entender o que eles significam. Isso será possível com a tecnologia da Web semântica, que vai unir a descrição dos dados junto com os dados em si, permitindo que os computadores compreendam o contexto das informações.

Saber ou não, eis a questão

Mas até que ponto antever o futuro é uma vantagem? E para quem seria vantajoso? Quem deteria essas informações? São perguntas pertinentes que precisam ser respondidas antes desses projetos serem levados a frente.

A informação de que uma guerra pode estar prestes a acontecer poderia gerar situações catastróficas em mãos erradas. Prever uma crise financeira é vantajoso para que um país ou o mundo possa se adiantar a ela. Um governo pode evitar a propagação de uma doença contagiosa em grande escala ao descobri-la com antecedência. Isso se ele quiser.

Como você pode ver, há vantagens e desvantagens na previsão do futuro. Basta apenas lembrar que estamos na era da informação e que hoje ela é usada como arma, muito mais poderosa que bombas ou metralhadoras.

“Quem tem informação, tem poder”, diz o ditado. Se já é perigoso que certas informações atuais estejam em mãos erradas, o que dizer de informações do que ainda pode acontecer? Mais importante do que prever o futuro, é saber quem terá acesso a ele.

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