Tecnologia nos estádios de futebol: até quando os erros grosseiros vão perdurar?

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Copa do Mundo. Oitavas de final. Perdeu, está fora. Por qualquer detalhe, todo o trabalho de meses pode ir por água abaixo. E quando esse detalhe é decidido erroneamente pelos árbitros? Foi o que presenciamos em dois jogos da Copa de 2010: Alemanha e Inglaterra, Argentina e México.

Os erros escandalosos de arbitragem nessas duas partidas reabrem uma discussão que não é tão nova: por que o futebol não usa a tecnologia para minimizar os erros dos árbitros? É o que o Baixaki quer debater com você.

O que aconteceu

A Alemanha vencia a Inglaterra por 2 a 1. Aos 38 minutos do 1º tempo, o inglês Frank Lampard acertou um belo chute por cobertura. A bola bateu no travessão, entrou no gol (passou mais de 30 cm da linha) e voltou para as mãos do goleiro alemão. O gol não foi marcado e o placar final foi de 4 a 1 para os alemães.

O gol de Lampard que não foi validado.

Imagem: Getty Images

Horas depois, o jogo entre Argentina e México estava 0 a 0 quando Carlos Tévez, atacante argentino, muito mais adiantado que o zagueiro mexicano, completou para o gol. O impedimento não foi marcado e a Argentina venceu por 3 a 1.

Curiosamente, os telões do estádio exibiram o lance, para desespero dos jogadores mexicanos, que tentavam convencer o árbitro do erro grosseiro. Não adiantou.

A FIFA, entidade máxima do esporte, permaneceu calada. Fato é que ela não gosta dos telões e instrui a somente exibir os lances não polêmicos. O que aconteceu na partida entre Argentina e México foi, de fato, um erro dos operadores dos telões.

Poderia ser diferente?

Quem estava em casa, assistindo pela TV, ou até mesmo no estádio, com televisores portáteis e aparelhos celulares, percebeu o erro em poucos segundos. Pouquíssimos segundos, menos de 10.

Então, da mesma maneira que é fácil para os espectadores, por que não o é para árbitros? No futebol americano e no basquete profissional da NBA, os árbitros param a partida e recorrem às câmeras para definir lances polêmicos. No hockey, um sensor de impacto fica no gol e dispara uma sirene para confirmar o tento.

O Olho de Águia, usado no tênis.No tênis, a tecnologia é ainda maior, com o Olho de Águia, como é conhecido. Sabe-se que a bola se movimenta muito rapidamente e é muito difícil determinar se ela passou inteira ou resvalou o mínimo que seja na linha da quadra.

Nesses casos, o árbitro de linha toma uma decisão, mas o jogador pode desafiar a marcação. Então a tecnologia entra em ação. Trata-se de um sistema que traça o caminho da bola visualmente, que é exibida tridimensionalmente em um telão e na hora para acabar com qualquer dúvida.

No futebol, isso não acontece. Segundo Joseph Blatter, são os erros que garantem a “fascinação e popularidade” do futebol. Em outras palavras, as discussões de domingo acabariam.

Em 2008, uma versão do Olho de Águia para o futebol foi desenvolvida e proposta. Seriam 12 câmeras que determinariam a posição da bola e enviariam uma mensagem ao árbitro. O tema foi debatido, mas o sistema foi rejeitado pela FIFA. A justificativa de Blatter: é caro e nem sempre conclusivo.

Jogadores, em geral, aprovam

Jogadores, técnicos e outros envolvidos com o futebol se mostraram favoráveis ao uso da tecnologia. O técnico da seleção inglesa de futebol, Fabio Capello, foi enfático ao dizer que “é incrível que em uma época com tanta tecnologia os árbitros não sejam capazes de decidir se foi ou não gol”.

O ex-craque holandês Johan Cruyff também é a favor da presença de câmeras pelo menos nos gols, mas fez uma ressalva quanto ao uso intenso do equipamento, que pararia muito as partidas. Essa é outra justificativa da FIFA para não usar as câmeras. Além disso, os árbitros perderiam autonomia e autoridade.

A tecnologia já é usada em replays, por que não para dúvidas?

Não é o que se observa na NBA e no futebol americano, nos quais quem decide se a câmera vai entrar em ação é justamente o árbitro. No tênis, é o jogador quem pede, mas ele tem um limite de vezes para recorrer ao Olho da Águia.

É fato que tênis, futebol americano e basquete são esportes que param muito mais durante uma partida do que o futebol. Mas será que um pouco de bom senso não seria o suficiente para definir quais lances devem ser decididos eletronicamente?

Já reparou no tempo que um time que sofreu com um lance irregular perde para reclamar? Certamente não é maior que o necessário para recorrer a uma câmera. Obviamente, as tecnologias não seriam aplicadas a todo instante. Isso não acontece sequer no tênis, que usa uma das mais avançadas tecnologias.

Chip na bola e adaptação

Desde 2007, discute-se a implementação de chips nas "redondinhas" para saber se uma bola cruzou totalmente a linha ou não, algo que evitaria a polêmica no gol da Inglaterra, por exemplo. Também se discute o uso de microcâmeras nas traves. Mas a relutância da FIFA impera.

Por um lado, com certeza vale a pena relutar enquanto um sistema não se mostra absolutamente perfeito. Por outro, com tantos exemplos de que dá certo, essa relutância se mostra injustificável. É uma simples questão de adaptação: usar o que dá certo em outros esportes de maneira adequada às características do futebol.

O que a FIFA está disposta a fazer é apostar cada vez mais no humano. A entidade autorizou as confederações de futebol a usar dois árbitros a mais, um atrás de cada gol, para ajudar em lances polêmicos. Fica a dúvida: eles estão menos suscetíveis a falhas do que os outros humanos?

Uma reviravolta?

Momentos após a publicação original deste texto, a FIFA decidiu se pronunciar, e prometeu retomar as discussões sobre o uso da tecnologia a favor do futebol em julho, durante uma reunião no País de Gales. A princípio, será discutido somente o uso de aparatos na linha do gol para evitar erros como a não marcação do gol da Inglaterra.

Isso significa que impedimentos, pelo menos por enquanto, continuam fora da pauta. A justificativa da FIFA é que uma equipe pode pedir o replay várias e várias vezes, comprometendo o andamento do jogo. Mesmo assim, é um começo para mudanças significativas.

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