Match Point: a tênue linha entre a diversão e a competição nos video games

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O mundo já está separado em dois tipos de jogadores. Ainda há quem jogue um game só pela diversão. Para se acalmar em uma semana complicada. Para simplesmente descontrair na frente de uma telinha explorando ao máximo aquele mundo fantástico. Mas, ao mesmo tempo, também temos aqueles que têm uma missão diferente. Eles entram em um jogo para serem os melhores. Eles estão, como diriam os teóricos dos games de luta, “jogando para vencer”.

É fácil identificar um ou outro. Enquanto você se satisfaz só por fechar um game, seu amigo mostra que o tempo dele foi melhor que o seu em muitas das fases. Ao mesmo tempo vocês riem descontroladamente em uma partida de Mario Kart, ele se irrita caso fique nas últimas colocações por várias corridas seguidas.

Talvez você também tenha notado que são esses dois perfis que povoam a maior parte dos jogos online e dos encontros entre amigos. Não é difícil se reunir para uma jogatina e algum dos colegas ser apontado como “apelão” por utilizar alguma técnica ou estratégia que os demais ainda não sabem como combater. Talvez eles não estejam lá para aprender como vencer isso. Eles estão lá somente para se divertir.

Sempre tem aquele amigo chato que já sabe jogar e destroi com todo mundo, não é mesmo?

Há, também, conflitos frequentes entre esses dois grupos. Prova disso é como muitos jogadores de League of Legends lembram com rapidez dos xingamentos lançados quando um companheiro de equipe perde uma partida.

Grandes competições vieram ao mundo dos video games e desenvolveram um espírito competitivo voraz entre os jogadores. Não é difícil encontrar um jovem que queira ser profissional de League of Legends, Counter-Strike: Global Offensive ou Call of Duty. Afinal, eles se amam esses jogos e melhoram cada vez mais as suas habilidades. Mas a linha entre a competição e a diversão é tênue, e muitos sequer imaginam que ela possa ser um problema frequente quando a sua profissão é jogar.

O cenário competitivo de League of Legends se surpreendeu nesta semana com a saída de Konstantinos "FORG1VEN" Tzortziou na equipe Origen, atualmente a penúltima colocada na liga profissional realizada pela Riot Games na Europa. Seu desligamento aconteceu menos de um mês depois da entrada no time. Segundo algumas das declarações dadas pelo jogador, ele estava se sentindo “desmotivado” e encontrou mais diversão em Overwatch, o shooter lançado recentemente pela Blizzard.

Desmotivado, Forg1ven deixou em menos de um mês a equipe que o contratou

O caso gerou intensas críticas ao próprio jogador pela sua “falta de responsabilidade” com a má fase da equipe, desistindo de vez com a sua carreira profissional. Embora isso se eleve aos campos éticos e jurídicos de diferentes formas, a questão aqui ainda é a grande diferença entre a diversão e a competição dentro dos jogos eletrônicos. Quando a linha entre elas se rompe, um game será a coisa mais irritante que você pode fazer na sua vida.

Viver como um competidor de eSport parece maravilhoso para alguns, mas é fácil considerar esta como a profissão perfeita quando você encontra a diversão nela em algumas horas do seu dia. O problema é quando ela ocupa a sua rotina completamente e você não está pronto para isso.

No auge do Starcraft coreano, os competidores das ligas profissionais passavam por treinos diários de 14 a 18 horas. O mesmo já se aproxima do cenário profissional de League of Legends no Brasil e no mundo. Você joga uma partida. E de novo. E de novo. E, depois de 40 horas na semana, coloca tudo o que você treinou em dois confrontos pela liga profissional. Perdendo ou ganhando, você repete. Essa é a sua profissão, não é mesmo?

League of Legends conta com circuitos profissionais organizados pela Riot Games, inclusive no Brasil

No entanto, é difícil compreender a pressão que um jogador sente constantemente nessa rotina. Se ele perder o desempenho, dez outros competidores aparecerão com o mesmo potencial. É como um jogador de futebol que nunca se cansa. A diferença é que não costumamos imaginar um game como algo que pode deixar de ser divertido.

Por inúmeros motivos, um jogador profissional não se diverte mais superando seus próprios limites. A intenção de parar, quando feita com sabedoria, é a mais normal possível. Você sabe disso muito bem. Você já perdeu a vontade de jogar um determinado game no console ou no celular porque já enjoou completamente dele. É a mesma situação, mas para o mundo profissional.

Quem diria que, no fim, até mesmo jogar video games seria uma atividade tão cheia de compromissos e decisões sérias. O ponto mais legal de aceitar uma profissão nessa área é que não precisamos deixar a diversão de lado. Basta saber o momento certo para cada coisa.

O Match Point é um espaço no TecMundo e no TecMundo Games dedicado para discutir o eSport e os games competitivos toda sexta-feira, trazendo também estratégias, curiosidades, campeonatos e jogadas inesquecíveis dos mais diversos títulos. O colunista Maximilian Rox acompanha o cenário há mais de oito anos como jogador, redator, manager e entusiasta por toda essa trajetória.

Jogar, jogar e continuar jogando: uuma tarefa que é mais difícil do que parece

Replay da semana

A sugestão de partida desta semana é longa, mas acompanha um pouco o assunto discutido nos parágrafos acima. Antes de se tornar vice-campeão mundial de League of Legends na primeira metade de 2016, o atirador da Counter Logic Gaming Trevor "Stixxay" Hayes passou por um longo período treinando e se destacando nas filas competitivas do jogo.

Durante este tempo, times como Cloud 9 e a própria Counter Logic Gaming acompanharam o seu desenvolvimento e chamaram ele para integrar o "segundo time" da organização. O replay abaixo lembra um dos primeiros treinos entre as duas equipes em janeiro de 2015, quando o atirador ainda atuava como o suporte da equipe rival.

Com muitos meses de treinos e dedicação, ele venceu o campeonato norte-americano e ajudou o continente a conquistar a segunda colocação no Mid-Season Invitational 2016. Apesar de não se comparar ao desempenho atual do jogador, a partida é muito equilibrada e relembra as atualizações antigas do jogo. E também conta com uma reviravolta no final.

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