Por que livros digitais ainda são tão caros?

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O que não passava de uma promessa até pouco tempo atrás já se tornou uma tendência que promete acabar com o mercado editorial do jeito como o conhecemos. Quem acompanha as notícias publicadas pelo Baixaki provavelmente notou que o mercado está sendo invadido por uma grande variedade de e-readers com os mais diversos recursos, tamanhos de tela e preços.

Embora as previsões sobre o fim dos livros impressos ainda discordem entre si em alguns pontos, é inegável que cada vez mais pessoas preferem o meio digital às velhas folhas de papel. Além de ocupar menos espaço e disponibilizar facilmente centenas de livros em um só local, os e-readers trazem consigo a promessa de menores preços para o consumidor.

Devido à eliminação de custos como impressão e distribuição, não foram poucos que apostaram em uma queda substancial de preço em relação às edições de papel. Porém, meses após a difusão dos leitores digitais, o cenário que se observa é bastante diferente do idealizado.

Uma pesquisa rápida pela loja virtual de livrarias e editoras que praticam a venda de e-books revela poucas diferenças entre a versão virtual e a impressa de um título. Em alguns casos, o livro impresso chega a custar até menos que a versão digital, incluindo o frete cobrado. Uma situação que parece bastante estranha, ainda mais quando se leva em conta o gasto adicional que o leitor tem ao adquirir um aparelho para realizar a leitura dos títulos.

Mas afinal, o que faz os livros digitais ainda terem um valor tão elevado e o que impede o mercado de vendê-los por um preço menor? Ganância das editoras, falta de experiência nesse novo mercado ou questões que vão além e envolvem autores e políticas de lojas virtuais? São estas e outras perguntas que o Baixaki responde neste artigo.

O processo necessário para chegar ao digital

Antes de entrar em discussões sobre o preço de um livro digital, é preciso entender como se dá o processo de produção desse tipo de edição. Afinal, não basta simplesmente disponibilizar o mesmo arquivo que vai para a gráfica para o usuário final, pois é preciso uma série de pequenos ajustes para tornar a leitura adequada a dispositivos portáteis como tablets ou e-readers.

Disponibilizar um livro para o formato digital não é uma tarefa dificilmente, especialmente quando se tratam de títulos novos. Basta possuir o arquivo com as informações do texto e imagens e convertê-lo para o formato mais apropriado, seja ele em PDF, ePub ou outros formatos, em um processo que custa dinheiro às editoras, mas não chega a ser realmente oneroso no geral.

No caso de livros antigos, o processo possui um custo adicional, já que muitas vezes é necessário produzir um arquivo com suas informações e formatação adequada ao mundo virtual. Especialmente quando se trata de grandes editoras, o investimento necessário para disponibilizar conteúdo para leitores digitais é muito pequeno, especialmente quando comparado ao processo de impressão e estoque.

Mesmo se levarmos em conta que o mercado editorial tradicional já possui bases fortes, em que a quantidade de produção alivia em muito o preço final do produto, não há um motivo para as edições digitais custarem tanto quanto as impressas. Da mesma forma, os dois produtos não podem ser encarados como competidores, visto que alguém que opta pela compra da versão digital não necessariamente iria comprar a versão impressa.

Um mercado contraditório

Casos em que as versões digitais e impressas possuem um custo semelhante não são exclusividade do Brasil. Mesmo nos Estados Unidos, em que o mercado de e-books está melhor estabelecido, não é difícil encontrar valores semelhantes aos dois meios – porém, quase sempre isso acontece com lançamentos.

Isso se deve a um fato bastante óbvio: quanto mais novo um livro, maiores as chances de que chame a atenção do público e venda rápido. É mais ou menos como no mundo do cinema, onde o verdadeiro lucro vem nas primeiras semanas após o lançamento e o resto é computado de forma diferenciada. Claro, tudo isso com as devidas diferenças de tempo características de cada meio.

Conforme o livro perde destaque para outros lançamentos ou acaba com o estoque encalhado, é hora de rever os preços. Com os livros digitais a queda de preço se dá de forma quase imediata, enquanto com as edições impressas a história é um pouco diferente – afinal, as lojas já arcaram com os custos de compra e estocagem. Mesmo assim, não é incomum que ocorram promoções que diminuem em muito o preço do produto.

Essa lógica se aplica quase perfeitamente nos países em que os e-books já estão mais difundidos, porém parece escapar ao Brasil. Isso faz com que ocorram várias contradições, com livros que saem mais baratos mesmo quando se tratam de cópias impressas com custos de produção, transporte e estocagem acumulados.

Gato Sabido, site brasileiro especializado na venda de e-books

Duda Ernanny, sócio-fundador do Gato Sabido, site especializado na venda de e-books ligado ao Submarino, afirma que o mercado passa por um momento delicado de adaptação. “As editoras ainda tentam trabalhar com as mesmas margens de um mercado condenado à extinção. O modelo deve ser repensado e enfrentado. Ignorar estas mudanças ou não ouvir o consumidor é um suicídio institucional”.

Apesar dos custos editoriais não diminuírem tanto quanto o esperado na transição para o digital, Ernanny defende que a percepção do consumidor é uma variável que deve ser levada em muita consideração. Insistir em um modelo que cobra o mesmo pelas duas versões de um livro não é viável, já que existe a percepção de que o digital deve ser mais barato e não há como mudar isso.

Alguns exemplos da diferença

Fase de aprendizado

Embora atualmente a Amazon, maior revendedora mundial de livros digitais, venda o dobro de e-books em comparação com as edições de papel, é preciso levar em conta que o mercado como um todo ainda está em fase de estabelecimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, apesar de possuir taxas de crescimento anuais consideráveis, as vendas de livros digitais representaram uma fatia de somente 8,5% das vendas no primeiro semestre de 2010.

Isso faz com que ainda haja muita desconfiança e discordância em relação ao preço praticado na hora de vender o produto. A Amazon utiliza a estratégia de subsidiar os preços de sua biblioteca, cobrando o valor unitário de US$ 9,99, com algumas exceções, mesmo que pague mais para as editoras.

Dessa forma, em geral, a empresa perde dinheiro na hora de vender livros virtuais, algo que só é possível pela dimensão que possui. Além de compensar as perdas com as vendas surpreendentes do Kindle, a Amazon também garante seu lucro através de sua loja de livros no formato tradicional.

Como nem todas as editoras ou livrarias possuem a mesma estrutura, fica difícil estabelecer um mercado com preços tabelados, ao menos no momento. Mesmo as editoras parceiras da Amazon parecem discordar desse modelo de negócios, seja pressionando a loja a aumentar os preços cobrados ou adiando o lançamento das versões virtuais de seus livros através do site.

Essa luta pelo aumento de preços parece responder exclusivamente aos interesses das editoras, preocupadas com a situação estabelecida no campo da música digital. Algumas chegam inclusive a adiar o lançamento de versões digitais, em uma estratégia que acreditam ser a ideal para proteger seu modelo de negócios. Duda Ernanny, do Gato Sabido, critica este tipo de estratégia – para ele, “se uma mídia precisa ser protegida, tem algo de errado com ela, ou interesses que não são os do consumidor”.

Futuro promissor

Apesar da situação atual não ser das mais animadoras para quem esperava uma queda substancial do preço de livros no formato digital quando comparados às versões impressas, o futuro do meio é bastante promissor. Com o crescimento do mercado digital e mais compradores optando pela compra de um e-reader, as editoras serão forçadas a rever seu posicionamento, o que aponta para uma queda geral de preços.

Nos próximos meses, a perspectiva é  de que o mercado seja invadido por uma enxurrada de aparelhos capazes de ler e-books, sejam eles e-readers especializados ou tablets como o iPad ou o Galaxy Tab. Com mais opções de leitores disponíveis, a queda de preços dos aparelhos é inevitável, o que deve resultar em um crescimento substancial do mercado em curto prazo.

Porém, quem planeja adquirir um leitor digital deve estar atento e pesquisar bastante antes de optar por um aparelho. O sócio-fundador do Gato Sabido, Duda Ernanny, alerta que tablets não são a opção ideal para quem procura uma leitura confortável por possuírem um peso considerável e serem emissores de luz, fator que contribui para o cansaço visual.

Fonte: Divulgação/Apple

Nesse caso, os aparelhos especializados ainda são a melhor opção, pelo menos se a intenção exclusiva do usuário é ter à disposição vários títulos. Outro fator que deve ser levado em conta é a capacidade de ler arquivos protegidos por DRM, proteção contra pirataria utilizada pela maioria das livrarias que praticam a venda através do formato digital.

Por último, o usuário deve estar atento à capacidade de utilizar e rediagramar documentos em PDF, formato utilizado em aproximadamente 85% dos e-books disponíveis no Brasil – estatística que deve se manter por muito tempo, segundo Ernanny. Como exemplo, ele cita que, dos 120 mil títulos inglês disponíveis nas livrarias digitais brasileiras, 80% são em PDF.

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