Big Data chega de vez a Hollywood

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Hollywood vem passando por uma situação nova, principalmente na última década. Empresas de streaming concentram uma grande quantidade de informações sobre os hábitos de consumo de seus usuários e as mantêm guardadas até mesmo quando interessam aos estúdios donos dos filmes que estão em plataformas como a Netflix.

Para tentar não ficar para trás e assumir controle sobre esses dados, os conglomerados de Hollywood estão criando seus próprios serviços de streaming, para que possam ter acessos privilegiados e entender melhor seu público. O Disney+ foi o mais recente a entrar na onda, mas certamente não será o último. Em 2020, a NBCUniversal lançará o Peacock e a WarnerMedia entrará no mercado com o HBO Max.

Apenas para mostrar a relevância de se ter acesso a tais dados, antes de a AT&T concluir a compra da WarnerMedia, o então CEO da Time Warner, Jeff Bewkes, usou como justificativa a falta de informação sobre suas produções e seu público. Ele afirmou que empresas como Amazon, Netflix, YouTubeFacebook "sabem mais sobre nossos consumidores do que nós". E que "Quanto mais dados você tem sobre os espectadores, mais você sabe sobre a sua programação. Ajuda a entender como otimizar".

WarnerMedia entrará oficialmente no mundo do streaming em 2020 com o HBO Max (Fonte: WarnerMedia/Divulgação)
WarnerMedia entrará oficialmente no mundo do streaming em 2020 com o HBO Max. (Fonte: WarnerMedia/Divulgação)

Tanta informação faz surgir um novo problema para o qual o governo dos Estados Unidos ainda não estava preparado: como regulamentar o acesso a esses dados? Com isso, o governo surge como mais uma peça no tabuleiro da "guerra do streaming", mas como ele irá se posicionar não está bem definido.

Ainda não há uma noção sobre o quanto o Big Data representa uma ameaça para leis antitruste. E é para lidar com tantas informações de empresas como Google e Facebook que legisladores e reguladores da política nos EUA têm dedicado tanto tempo nos últimos meses. O chefe da divisão antitruste do Departamento de Justiça, Makan Delrahim, afirmou que companhias com acesso a essa quantidade significativa de dados teriam condições de se beneficiar deles de modo abusivo. Ele comentou que o alerta deve ser elevado, mesmo sabendo que coletas de informações sobre hábito de consumo existem há décadas.

"Os agentes antitruste devem examinar cuidadosamente se maiores danos competitivos estão ameaçados, dadas as realidades do mercado de hoje", disse Delrahim durante uma palestra em Harvard. "Por exemplo, os executores podem considerar se a escala dos dados coletados aumentou em várias magnitudes; o tipo de dados coletados; e o que significa quando as empresas coletam esses dados. Mas, principalmente, os aplicadores devem enfrentar a realidade de que as ideias de dados na economia digital são combinadas em todo o ecossistema da internet, afetando completamente a escolha do consumidor".

E a privacidade dos usuários é apenas um dos fatores que devem ser considerados quando se fala em Big Data. O professor de Direito da Universidade Estadual do Michigan, Adam Candeub, criticou o esforço da Netflix em impedir que terceiros tenham acesso aos dados. "A Netflix faz todo o possível para impedir que terceiros aprendam seus dados de exibição", escreveu ele ao escritório antitruste. "A Netflix criptografa seus dados para impedir que provedores de acesso à internet e navegadores da web rastreiem o uso e não compartilha dados com terceiros, mesmo com os estúdios cujo material é licenciado e que naturalmente desejam informações sobre seus próprios programas".

Netflix está no centro da polêmica envolvendo o Big Data (Fonte: Netflix/Divulgação)
Netflix está no centro da polêmica envolvendo Big Data. (Fonte: Netflix/Divulgação)

Porém, o Departamento de Justiça dos EUA ainda está longe de chegar a uma solução para esse problema. Regulamentar serviços de streaming e exigir a coleta de dados pode causar danos competitivos, podendo até mesmo tornar mais difíceis as fusões entre empresas (vide o caso da AT&T). O problema da vez é a aquisição do Fitbit pela Google. O Departamento de Justiça está examinando se deve ou não bloquear a proposta, alegando que ela daria à Google muitos dados sobre os consumidores americanos.

É difícil saber o quanto o Departamento de Justiça estaria interessado em se colocar nessa batalha. Seja obrigando gigantes do entretenimento a divulgarem seus dados, seja impedindo a união de empresas, os críticos à regulamentação acreditam que tais atitudes podem causar danos enormes. O professor da Universidade da Flórida, Daniel Sokol, acredita que regular esses serviços prejudica a concorrência: "A intervenção antitruste sobre forças de mercado ameaça o bem-estar do consumidor, especialmente em mercados velozes, e propõe remédios, como limitar a coleta e o uso de Big Data ou forçar as grandes empresas a compartilharem com os rivais, provavelmente prejudicarão a concorrência e a inovação e, de fato, poderão suscitar preocupações com a privacidade".

Por um lado, ainda não é possível saber se as ameaças de uma intervenção antitruste terão algum efeito prático. Por outro lado, a situação é irreversível, e cada vez mais o Big Data fará parte da indústria do entretenimento. Hollywood é a carta da vez graças à relevância que o streaming assumiu na última década, mas certamente representa apenas o começo da discussão.

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