Tempestade de asma: ciência explica surto de saúde e relação com raios

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Imagem: Imagem: tempestade com raios. Fonte: Pixabay.

Uma enxurrada de ligações inundou o serviço de emergência de Melbourne, na Australia, em 2016, devido ao maior surto de “asma de tempestade” já documentado. Mais de três mil pessoas foram acometidas pelo mal ao mesmo tempo. Agora, um novo modelo científico publicado em 14 de abril na revista acadêmica PLOS ONE, indica que a combinação de raios, rajadas de vento, baixa umidade e grãos de pólen pode ter sido a culpada pelo surgimento dos ataques de asma, que ocorreram na sequência da tempestade e ocasionaram a morte de dez pessoas.

O que é tempestade de asma

Como o nome sugere, surtos de asma desse tipo ocorrem quando uma tempestade espalha partículas de alérgenos no ar, desencadeando ataques de asma em pessoas suscetíveis, segundo a Associação Americana do Pulmão. O grupo de risco inclui asmáticos com doença mal controlada ou não diagnosticados e pessoas com rinite alérgica ou alergia a azevém – o grande vilão da tempestade em questão, de acordo com um relatório de 2017 da Secretaria de Saúde do estado de Victoria, na Austrália.

Tempestades de asma são bastante raras: a primeira foi relatada em 1983 e desde então a literatura médica aponta outras 22, segundo a pesquisadora e autora do estudo australiano, Kathryn Emmerson, em entrevista à revista digital Live Science. Desses 22 surtos, 10 ocorreram na Austrália, o que faz do país um "hotspot" desse tipo de evento. O mais grave foi a tempestade de 21 novembro de 2016.

Na ocasião, a chuva forte teve início às 17h30, após um dia quente, em que as temperaturas ficaram na casa de 30 graus Celsius, com clima bastante seco. Foram registrados mais de 102 grãos de pólen por metro cúbico. Normalmente os grãos de pólen de azevém (um tipo de pasto) são muito grandes para chegar ao pulmão, mas de alguma forma, durante a tempestade de 2016, as condições climáticas quebraram esses grãos em partículas menores, facilitando a entrada do alérgeno nas vias aéreas inferiores da população da região, desencadeando as crises de asma.

Apesar da ventania, a tempestade trouxe menos de cinco milímetros de chuva, seguida de uma onda de baixa umidade. Devido à pouca precipitação, muitas pessoas não procuraram abrigo, o que aumentou o número de expostos, afirmou a pesquisadora. Logo após a tempestade e no dia seguinte, os hospitais de Melbourne e região tiveram um aumento de 672% no número de casos de problemas respiratórios. Foram 3.365 casos a mais do que o esperado para a época do ano, que resultaram na morte de dez pessoas.

A causa do surto de asma

Por muito tempo se acreditou que os ventos da tempestade haviam elevado os grãos de pólen de azevém, que teriam sido capturados pelas nuvens e nelas hidratados, o que os faria explodir. A teoria, aceita inclusive pelo Jornal de Meteorologia Aplicada e Climatologia, publicação científica da Sociedade Americana de Meteorologia, depende de alta umidade no sistema – algo muito comum na época em que as tempestades ocorrem e que, portanto, não serve para criar um sistema de previsão de tempestade de asma confiável – o plano inicial da equipe de pesquisadores.

Na busca pela criação de um sistema melhor de previsão para esse tipo de evento, eles procuraram outras condições atmosféricas que poderiam causar tempestades de asma. Usando os dados da tempestade de 2016, construíram modelos de computador e os combinaram com experimentos em laboratório. Foi quando perceberam que são vários os fenômenos que se unem para esmagar os grãos de pólen em pedaços: rajadas de vento, raios e o acúmulo e descarga de eletricidade estática provocada pela baixa umidade.

As pesquisas indicam que um fator parece ter sido crucial para a tempestade de asma: os raios – embora eles não tenham atingido diretamente Melbourne, mas regiões a leste e sul da cidade. "Nenhum dos processos testados satisfaz completamente as condições para criar um sistema de alerta", afirma Kathryn. Por enquanto, será preciso monitorar tempestades associadas a fortes rajadas de vento, ao mesmo tempo em que se rastreiam os níveis de pólen na atmosfera.

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