Polêmica cósmica: estudo põe em dúvida existência da energia escura

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De acordo com um estudo divulgado há alguns dias, evidências levantadas recentemente apontaram que o principal fator no qual a existência da energia escura se baseia consiste em um erro de cálculo – o que significa que, consequentemente, as teorias em vigor para explicar o comportamento do Universo deveriam ser jogadas por terra. No entanto, inúmeros cientistas se manifestaram em contra à pesquisa, e o tema todo está gerando bastante polêmica.

Energia escura

Você já deve ter ouvido falar a respeito da matéria e da energia escura, certo? Esses conceitos fazem parte da teoria mais aceita entre os cientistas no momento para explicar a maneira como o cosmos se comporta. Segundo esse princípio, a matéria “comum” que vemos em nossas observações representa menos de 5% de tudo o que existe no Universo – sendo que pouco menos de 25% seria composto pela matéria escura e o restante pela energia escura.

(Fonte: Square Kilometre Array / Reprodução)

Nenhum desses 2 elementos pode ser observado diretamente, mas a existência da matéria escura é conhecida devido aos efeitos que a sua gravidade exerce no cosmos – que podem ser medidos pelos cientistas. Já a energia escura seria a força por trás do aumento na velocidade com a qual o Universo está se expandindo.

É importante mencionar que os conceitos de matéria e energia escura não surgiram de devaneios de cientistas malucos. Incontáveis estudos realizados por diferentes equipes de todo o mundo foram, ao longo dos anos, contribuindo com evidências que apoiam a teoria. Portanto, dizer que uma ideia tão aceita se sustenta em um princípio “errado” obviamente causaria controvérsia.

Contestando dogmas

Mais especificamente, segundo Ryan F. Mandelbaum, do site Gizmodo, os cientistas baseiam seus estudos em observações de um determinado tipo de supernova chamado Tipo 1a. Esse fenômeno – em que estrelas supermassivas entram em colapso – é previsível e relativamente bem compreendido pelos físicos, e o que eles fazem é medir o brilho emitido pela explosão estelar para calcular a distância em que os astros se encontram.

A partir daí, é possível descobrir uma porção de coisas mais e, com base também em observações sobre como a matéria comum se distribui pelo cosmos e na radiação cósmica de fundo em micro-ondas – a radiação residual da produzida logo após o Big Bang, há 13 bilhões de anos –, os cientistas conseguem medir a velocidade de expansão do Universo, por exemplo. E para que esses e outros tantos cálculos deem certo, a energia escura precisa entrar na conta, uma vez que a sua influência se faz presente.

(Fonte: Physics World / Reprodução)

Pois, de acordo com Ryan, o novo estudo – apresentado por pesquisadores da Universidade Yonsei e do Instituto de Astronomia e Espaço, ambos da Coreia do Sul, e da Universidade de Lyon, na França – atesta que a observação das supernovas do Tipo 1a consiste em uma base de cálculo equivocada para se estimar o comportamento do Universo.

Essa equipe conduziu observações de supernovas em galáxias aqui das nossas redondezas e encontrou “evidências estatísticas de uma correlação entre as idades das estrelas em 32 galáxias vizinhas da nossa e a quantidade de brilho produzido por supernovas do Tipo 1a que elas contêm”, segundo os cientistas. Isso os levou a concluir que, ao contrário do que se pensava, as supernovas emitem uma quantidade luz diferente da que podia ser prevista, então os cálculos que indicam a existência da energia escura estão errados.

(Fonte: Earth Chronicles / Reprodução)

O problema é que, conforme explicaram diversos cientistas que analisaram o novo estudo, os resultados se baseiam em extrapolações entre as galáxias observadas e outras situadas a maiores distâncias – e, segundo os cálculos da equipe, essas galáxias mais distantes seriam mais velhas do que o próprio Universo, o que é impossível. Além disso, os pesquisadores teriam baseado seu trabalho em uma amostragem pequena demais e com galáxias especialmente selecionados para o estudo, o que torna o resultado dos cálculos tendencioso, e seria necessário ampliar a pesquisa para realmente poder eliminar a energia escura da equação.

Não é a primeira vez que a existência da energia escura e que o uso das supernovas do Tipo 1a para servir de base para o cálculo da aceleração da expansão do Universo são questionados – e este estudo apresentado agora certamente não será o último a fazer isso. Aliás, é importante que trabalhos assim sejam realizados e que hajam equipes de cientistas preparadas para contestar teorias e crenças. Afinal, é assim que a Ciência progride! Mas, neste caso em questão, parece que o time não conseguiu convencer que a energia escura não existe.

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