Tesla S P85: testamos o carro de luxo 100% elétrico

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Carros elétricos não são exatamente uma novidade. No início da indústria, ainda no século XIX, eram eles que se destacavam, até que em 1915 o Ford T entrou em cena. Comercialmente, entretanto, desde que a indústria automotiva ganhou a importância que tem, os carros elétricos viveram à margem das alternativas a serem consideradas pelo consumidor.

Foi na década de 90, quando muitas montadoras voltaram as suas atenções para veículos menos poluentes e mais econômicos, que os carros elétricos voltaram à pauta. Desde então, eles ganharam força no mercado, mas em muitas localidades eles praticamente inexistem. É o caso do Brasil, onde carros como esses ainda são uma realidade distante.

Em contrapartida, na Europa e principalmente nos Estados Unidos, veículos elétricos aos poucos começam a ganhar mais notoriedade. Problemas antigos associados a eles, como falta de autonomia, dificuldade em se encontrar postos de recarga ou até mesmo baixa potência de motor, estão virando coisa do passado.

Um dos exemplos dessa nova indústria de elétricos são os modelos fabricados pela Tesla Motors. O veículo Tesla S P85, lançado em 2012, conseguiu abocanhar nada menos do que 8,4% do mercado de veículos de luxo nos EUA em apenas dois anos. O feito é significativo se levarmos em consideração que se trata de uma companhia ainda novata em meio às consagradas montadoras tradicionais.

Durante a GTC 2014, evento realizado pela NVIDIA na cidade de San Jose, na Califórnia, tivemos a oportunidade de dirigir um Tesla S P85 e conhecer de perto o funcionamento das suas tecnologias. Vale lembrar que essa não é uma análise automotiva, mas sim um panorama sobre as muitas tecnologias diferenciadas que o veículo oferece.

A primeira impressão: conforto e elegância

Voltado para o mercado de luxo, o Tesla S P85 está disponível por enquanto apenas no mercado norte-americano. Seu preço final fica em torno de US$ 84 mil (o equivalente a R$ 187 mil). Além da versão P85, o Tesla S conta com outros dois modelos: o P60 (US$ 65 mil) e o P85 (US$ 74 mil).

Aparência interna do Tesla S P85

Basicamente os três modelos são similares em termos de tamanho, e a diferença principal fica por conta da potência e da capacidade de armazenamento e recarga do veículo. O modelo Tesla S60 pode armazenar 60 kW de energia e vai de 0 a 60 milhas em 5,9 segundos. O Tesla S85 armazena 85 kW de energia e vai de 0 a 60 milhas em 5,4 segundos. Por fim, o modelo Tesla S P85 armazena 85 kW de energia e vai de 0 a 60 milhas em 4,2 segundos.

Se por fora o veículo já impressiona, abrir o capô da frente faz com que o motorista tenha outra surpresa: como o carro é elétrico não há motor e a parte frontal acaba se transformando em um segundo porta-malas. Com o conforto e os opcionais que um carro de primeira linha oferece, não é difícil se sentir à vontade ao assumir o volante.

Desempenho suave: onde está o som do motor?

Para quem está acostumado com um carro com câmbio automática, não há praticamente diferença alguma em termos de dirigibilidade. A sensação de troca de marchas de acordo com a rotação do veículo é, em linhas gerais, idêntica à de um carro com motor convencional. Entretanto, basta pisar um pouco mais para perceber algo que soa estranho: o veículo não faz barulho nenhum.

Acelerar e desacelerar o carro gera um ruído similar àquele que você ouve quando liga e desliga o seu computador. Entretanto, com a estabilização da velocidade, logo você deixa de ouvir a tradicional “resposta do motor”, o que faz com que em alguns momentos a direção se torne até mesmo monótona.

Não é o caso das estradas brasileiras, mas dirigindo pelas freeways com asfalto perfeito da cidade de San Jose, por exemplo, fica difícil imaginar uma viagem um pouco mais longa sem ruído algum vindo do carro. Tanto na estrada quanto na cidade o desempenho é satisfatório, sendo possível fazer ultrapassagens com segurança mesmo acima das 70 milhas por hora (o equivalente a 110 km/h).

Painel interior

Em tempos em que os veículos estão ganhando sistemas operacionais integrados com smartphones – Apple, Microsoft e Google trabalham em iniciativas nesse sentido –, o Tesla S parece ser o veículo perfeito para receber novidades como essas.

Na parte central do console o motorista tem acesso a uma tela touch LCD de 17 polegadas, cuja aceleração gráfica e processamentos são providos por processadores da linha Tegra da NVIDIA. Por meio dela, é possível ter controle total sobre os dispositivos de mídia do carro, acessar o GPS via Google Maps, navegar na internet ou controlar itens do veículo.

Além disso, o sistema provê informações como autonomia e consumo de energia e permite a integração com smartphones, para recebimento e realização de chamadas via Bluetooth. Uma câmera traseira Full HD amplia a visibilidade do motorista na hora de estacionar e as imagens são exibidas no painel central.

Por fim, controles tradicionais do carro como temperatura do ar-condicionado, e ajuste de altura dos bancos e do volante também podem ser configurados a partir da tela. Até mesmo o teto solar pode ser aberto ou fechado com um simples toque na tela.

Combustível x bateria

Aquele que também é o maior diferencial de um carro elétrico é a razão pela qual ele não é visto com bons olhos por muitos consumidores. O modelo P85, em condições ideais, é capaz de percorrer até 306 milhas (cerca de 493 quilômetros) com uma carga de bateria.

Assim como nos carros movidos à combustível, vários fatores influenciam no consumo do veículo. Circular na estrada ou na cidade, a velocidade média que o veículo anda, as condições climáticas do local em que você está e uso do ar-condicionado podem fazer com que, no pior dos cenários, a autonomia não passe das 188 milhas (cerca de 303 quilômetros).

Quanto menor a temperatura externa, maior será o gasto de energia. Da mesma forma, quanto maior for a velocidade média, maior também será o esforço do gerenciamento de energia. Um curiosidade: as baterias ficam localizadas sob o assoalho do veículo e, por conta disso, ele se torna mais estável. Em testes, ficou comprovado ser praticamente impossível capotar um Tesla S.

Tempo de recarga

Há basicamente três formas de recarga dos modelos elétricos da Tesla. A primeira delas, e mais simples de todas, é por meio de um conector simples que pode ser plugado em qualquer tomada 120 V que você possua em casa. Ela possui uma corrente de 12 A, o que faz com que uma recarga completa possa demorar uma eternidade: 1 hora de carga dá uma autonomia de apenas 3 milhas.

A segunda alternativa é por meio de um conector similar plugado em uma fonte de 240 V. Fontes como essas geram uma corrente de 40 A, e 1 hora de carga dá uma autonomia ao veículo de 29 milhas a serem percorridas.

Por fim, a solução ideal são os conectores de parede. Eles possuem uma corrente de 80 A e 1 hora de carga geram uma autonomia de 58 milhas para o veículo. Na prática, é preciso esperar quase 6 horas para que a bateria do seu carro seja recarregada por completo.

Adaptação ao trajeto

Nos Estados Unidos, ao menos em grandes companhias, é comum encontrarmos nos estacionamentos vagas específicas para carros elétricos. Geralmente essas vagas ficam ao lado de totens de recarga, o que permite recarregar um pouco da bateria enquanto o veículo não está em uso.

Localidades nos Estados Unidos que contam com postos de recarga para os veículos da Tesla Motors.

Quem utiliza um Tesla S dentro da cidade, por exemplo, com deslocamentos diários inferiores a 50 km, consegue se virar bem apenas com as tomadas tradicionais para recarga do veículo. Mas e o que dizer daqueles que precisam pegar a estrada e enfrentar muitos quilômetros?

Pensando nisso, a Tesla tem povoado os Estados Unidos com postos de recarga. Hoje já é possível, por exemplo, ir da Costa Leste para a Costa Oeste, uma distância de cerca de 4 mil quilômetros, apenas parando em pontos de recarga posicionados estrategicamente ao longo do caminho. Atualmente, há mais de duas centenas de postos como esses espalhados pelo país.

Economia em longo prazo

Outro ponto que pesa em favor dos veículos é a sua economia em longo prazo. Ao percorrer 50 mil milhas com um Tesla S, por exemplo, um motorista é capaz de economizar até US$ 7 mil em combustível, conforme indica uma demonstração disponível no site oficial da montadora.

Comparação de consumo durante 50 mil milhas percorridas: grande vantagem para o modelo elétrico.

Nos Estados Unidos, o custo de um galão de combustível (um galão equivale a 3,79 litros) em média é de US$ 3,90. Um sedã premium faz em média 22 milhas com um galão de combustível. Para percorrer 50 mil milhas, ao longo do tempo um proprietário gastaria cerca de US$ 8.864 em abastecimento.

No caso do Tesla S, o custo que deve ser levado em consideração é o do quilowatt-hora. Nos EUA, o valor dele é de US$ 0,12 para cada kW/h. O resultado disso é que, para percorrer as mesmas 50 mil milhas com um carro elétrico, o motorista gastaria apenas US$ 1.746.

Um modelo de negócio diferenciado

Além da experiência de dirigir o Tesla S p85, visitamos também uma das lojas oficiais da montadora na cidade de San Jose, nos Estados Unidos. A loja apresenta um ambiente muito mais conceitual do que aquele que estamos acostumados a ver em uma concessionária.

Loja oficial da Tesla Motors na cidade de San Jose, nos Estados Unidos.

Essa é justamente a ideia da marca, que tenta uma abordagem diferente junto ao consumidor e tem sofrido fortes retaliações por conta disso. Nos EUA, um fabricante de veículos não pode vender carros diretamente para o consumidor final, sendo obrigatório que o veículo passe antes por uma concessionária. No caso da Tesla, a montadora é também a concessionária, eliminando o intermediário do processo.

Por conta disso, diversos representantes de concessionárias tentam proibir na justiça o direito da Tesla de vender os seus próprios produtos. Em 3 dos 50 estados norte-americanos a Tesla foi derrotada e proibida de fazer vendas diretas. Ainda assim, apesar do forte lobby contrário, a marca vem ganhando adeptos e fãs do seu estilo mais ousado e tecnológico.

Existe a chance de vermos a Tesla no Brasil?

É possível, mas é pouco provável, ao menos por enquanto. O mercado nacional de automóveis vive na atualidade uma crise, com vendas abaixo do esperado, de forma que investimentos imediatos estão fora de cogitação. Entretanto, desde 2012 a Tesla namora com o mercado brasileiro, mas ainda estamos longe de receber os primeiros modelos da montadora por aqui.

Além do custo elevado dos veículos para importação, diferente dos Estados Unidos no Brasil não há nenhum tipo de incentivo fiscal para carros elétricos. Some-se a isso o fato de que não basta trazer os veículos: é preciso disponibilizar toda uma rede de postos de recarga, além de equipar hotéis e estabelecimentos comerciais para receber veículos como esses.

Não é uma tarefa simples e certamente ela não vai acontecer da noite para o dia. Mesmo nos EUA foram necessários alguns anos de investimentos para que a situação chegasse no patamar atual – que embora animador ainda está longe de colocar os modelos elétricos como a melhor e mais viável das opções.

Em termos energéticos, é inegável que estamos falando de uma solução mais barata e mais inteligente. Entretanto, a adoção do formato por aqui poderia gerar até mesmo problemas no setor energético, que não está preparado para suprir essa demanda extra.

De qualquer forma, trata-se de uma experiência curiosa e diferenciada, que tem seus pontos positivos e negativos. Porém, ao menos no território norte-americano, está ficando cada vez mais interessante deixar o combustível de lado e partir para um carro elétrico. Se essa será a melhor opção no futuro, só o tempo será capaz de dizer.

O TecMundo viajou a San Jose, na Califórnia, a convite da NVIDIA para a GTC 2014.

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