Smartguns: a era das armas inteligentes está chegando

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Elas estão presentes em várias produções cinematográficas de ação, principalmente naquelas que têm suas histórias desenroladas no futuro. “O Juiz”, “O Demolidor”, “Minority Report” e “No Limite do Amanhã” são apenas alguns exemplos de filmes nos quais os personagens contam com smart guns.

Apesar disso, armas inteligentes como as retratadas nos longas-metragens não estão longe de virar realidade. Inclusive, algumas delas já existem e estão sendo usadas por exércitos mundo afora. Neste texto, nós vamos explicar o que é uma smart gun, trazer mais detalhes desses equipamentos bélicos e falar sobre como eles podem revolucionar os combates armados.

A esperteza na hora de atirar

De acordo com o site Engadget, o termo “smart gun” é uma marca registrada da empresa Mossberg, tradicional fabricante de armas dos EUA. Contudo, o conceito original é informalmente usado para designar qualquer arma de fogo que é projetada para permitir que somente o seu dono puxe o gatilho. Como o armamento faz isso, para fins conceituais, não faz diferença.

Entre as tecnologias mais utilizadas para isso estão a RFID, que usa a radiofrequência para troca de dados a curtas distâncias, e a leitura biométrica. Porém, existem projetos e protótipos de armamentos que usam diversos sensores para gravar e comparar a pressão com a qual uma determinada pessoa segura a arma — o melhor exemplo dessa técnica é o sistema Dynamic Grip Recognition, desenvolvido no New Jersey Institute of Technology.

Além disso, mais recentemente começaram a surgir novas “categorias” de armamentos inteligentes. O caminho que está sendo traçado por esse segmento é o de proporcionar maior precisão de disparo, contando com acessórios que proporcionam quase miras automáticas ou que o atirador sequer esteja com o olho na luneta. É a combinação de armas e processamento computacional.

Meu nome é Bond...

Uma das smart guns mais conhecidas é a Armatix iP1, que funciona ao melhor estilo James Bond em "007: Operação Skyfall". A pistola de calibre .22 conta com um sistema batizado de Smart System, o qual estabelece uma comunicação via sinais de rádio de curta distância (RFID) entre a arma e um relógio de pulso que deve ser usado pelo atirador.

A distância de restrição de disparo é mínima, ou seja, se o dono da arma não estiver com ela empunhada, o tiro não será efetuado. É possível ainda travar ou habilitar a arma a partir de um código PIN digitado no relógio. O armamento possui um sinal luminoso para indicar se está bloqueado ou não.

Na ponta do dedo

Outra tecnologia já disponível no mercado é a Intelligun, criada pela companhia Kodiak Industries. Diferente do equipamento da Armatix, esse dispositivo opera com um scanner de digitais adaptado a uma Colt 1911 — um dos modelos mais populares nos EUA e que já teve algumas de suas versões passadas adotadas pelo exército brasileiro.

O leitor biométrico fica localizado na coronha, onde o dedo médio geralmente fica posicionado. Para permitir o disparo, o sistema realiza a leitura e a comparação da digital de quem está com a posse da arma. Se a digital não for identificada como a do dono, a arma é completamente bloqueada. Esse armamento é vendido por US$ 399, algo em torno de R$ 890 em uma conversão direta.

Deixa que eu miro para você

Quando o assunto é tiro de longa distância, um dos equipamentos mais avançados é o rifle da TrackingPoint — o qual está sendo testado pelas forças armadas dos Estados Unidos. O que chama atenção nesse armamento é a sua composição que traz funções presentes em computadores.

A vantagem dessa arma está, na verdade, em sua mira telescópica. Ali estão localizados: bússola, microfone, servidor WiFi, calculador de balística, lentes, sensores de pressão, temperatura e infravermelho, além de um filtro para atirar sob condições climáticas ruins. Todos esses dispositivos coletam informações, as quais são processadas por um microchip comandado por um sistema baseado em Linux.

A compatibilidade de interação com dispositivos com tela sensível a toque é mais uma peculiaridade do rifle. Assim, basta o atirador tocar no alvo que surge na mira para marcá-lo e deixar que o rifle faça todo o trabalho de cálculo para que o tiro saia preciso e perfeito. Depois é só fazer com que a mira secundária exibida no display chegue até o ponto previamente marcado. Assim que esses dois elementos se encontram, a arma dispara sozinha.

E o sistema da TrackingPoint já se mostrou bastante flexível, abrindo um leque enorme de aplicações. Recentemente, ele foi usado em testes para que atiradores pudessem mirar usando o Google Glass e um par de óculos de esqui equipado com Android. Tanta tecnologia resulta em um preço salgado. Os modelos desse rifle inteligente podem variar entre US$ 10 mil e US$ 27 mil.

As balas também “pensam”

Mais do que dar “inteligência” para as armas, as fabricantes de armas também estão investindo no desenvolvimento tecnológico das munições. Um exemplo disso são os cartuchos disparados pelo rifle XM25 — que já participou de alguns conflitos no Afeganistão. As cápsulas possuem 25 milímetros, sendo capazes de perfurar quase todo tipo de material. Mas isso não é o motivo da revolução trazida por esse equipamento.

O destaque aqui é o fato de cada bala contar com uma espécie de microcomputador que promove explosões controladas. Basicamente, o atirador pode determinar o momento em que a munição deve explodir, liberando os estilhaços que podem atingir um inimigo que estava protegido ou escondido.

Depois de usar a mira telescópica para indicar a distância do alvo, a qual pode inclusive ser determinada manualmente, o soldado só precisa pressionar o gatilho e aguardar que o sistema interno calcule a rota a ser percorrida e o momento exato de explodir — tudo isso em menos de cinco segundos.

E essa não é a única iniciativa nesse sentido. Clicando aqui, você confere o projeto do Sandia National Laboratories. Essa munição inteligente mistura um pequeno computador de bordo e um sensor óptico permitindo que o atirador direcione o trajeto do projétil por meio de um feixe de laser.

Tá, mas qual a vantagem de uma smart gun?

Não é preciso pensar muito para encontrar alguns benefícios relevantes das armas inteligentes. No tocante ao uso civil de equipamentos bélicos, a principal vantagem é evitar acidentes domésticos. Não são poucos os casos em que crianças acabam encontrando armamentos mantidos por seus pais em casa e causam tragédias.

Além disso, a adoção desse tipo de tecnologia evita que uma pessoa ou um policial, por exemplo, que tenha sido desarmado por um criminoso seja ferido por sua própria arma — uma situação que acontece mais do que imaginamos. Por fim, soldados em campo de batalha se expõem menos graças aos recursos que permitem a mira sem que necessariamente a cabeça do combatente esteja próxima à arma.

Nem tudo é positivo

As ideias de armas inteligentes são boas, as tecnologias empregadas são promissoras e os seus benefícios são claros. Contudo, há quem ainda aponte possíveis problemas com esse tipo de equipamento. A alegação é de que os mecanismos de segurança podem falhar na hora de serem desativados, e isso pode acontecer no momento em que o atirador mais precise que o armamento funcione.

Embora tais dispositivos tenham sido amplamente estudados e testados pelas fabricantes, não podemos negar que é relativamente comum que sistemas computacionais travem ou apresentem erros de funcionamento. Por exemplo, a câmera pode não obter o foco automático devido, o leitor biométrico pode encontrar dificuldade para executar leituras com a interferência do suor e a bateria que faz esses dispositivos adicionais funcionarem pode acabar.

O mais preocupante nesse cenário é que tais problemas podem significar a morte de quem está se defendendo. Por isso, as smart guns ainda não são muito comuns, mesmo em países que possuem legislações mais abertas para o porte de armas. Mais do que isso, ainda é necessária muita discussão sobre possíveis alterações em leis para que as armas inteligentes sejam amplamente usadas.

Mas e quando esses equipamentos se tornarem mais “populares”? Quais as mudanças que ocorrerão nos combates armados entre exércitos? Nós já pensamos nisso e você pode conferir algumas hipóteses do que aconteceria na Terceira Guerra Mundial acessando esta matéria. Caso você esteja bem interessado no assunto, sugerimos ainda que você leia esses outros dois artigos:

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