Entrevista: Moacyr Alves, criador do projeto Jogo Justo

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Moacyr Alves, criador do projeto Jogo Justo

Jogos originais por preços inferiores a R$ 100, gerando receita para o Brasil em impostos e aumentando o número de unidades vendidas para os lojistas, agradando a gamers, empresários e ao governo.

A proposta surgida com o nome de Jogo Justo, na metade do ano passado, ganhou força na internet, diversos apoios de peso e acendeu a esperança dos jogadores de que, em breve, as situações descritas acima serão possíveis.

Há poucos dias do “Dia do Jogo Justo”, evento nacional que acontece no próximo dia 29 e terá, além de uma série de atividades, preços promocionais de jogos em lojas que apoiam a iniciativa, o Baixaki conversou com exclusividade com o criador do projeto, que traz novidades e detalhes sobre as próximas ações que pretende implementar.

Estamos há menos de dez dias da grande data do Jogo Justo. Qual a sua expectativa para o dia?

Todo dia estou ligando e tentando falar com as pessoas, fazendo o máximo de contatos possíveis. Eu posso dizer que o Dia do Jogo Justo vai ser muito maior do que eu imaginava, mas tudo que é muito forte não sai sem sofrimento. Juntar estados do Norte ao Sul do país é muito difícil. Nós vamos ter atividades em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Brasília [Confira a programação completa no Baixaki Jogos]. Walmart e UZ Games estão confirmados com promoções durante o dia. Estamos negociando com Ponto Frio, Carrefour e Saraiva, mas ainda não estão confirmados.

Games estão entre as principais atrações da Campus Party

Qual a avaliação do resultado das prévias que foram feitas, com as promoções da UZ Games, Wal Mart e Ponto Frio?

Perfeito. O retorno foi fantástico. Inclusive, no caso da promoção do Ponto Frio, eu nem divulguei a informação para a imprensa porque quero desvincular um pouco a ideia de que o Jogo Justo só tem área comercial. O Jogo Justo é a ponta do iceberg. Nós queremos reduzir os impostos dos games, mas a coisa se tornou muito maior.

Nós queremos ajudar a regularizar o mercado interno, ajudar a diminuir o contrabando. A equipe do Jogo Justo é composta por 11 pessoas. E algo muito grande do Jogo Justo está vindo por aí. Nós vamos entrar com um projeto na Lei Rouanet, pra ver se conseguimos apoio para os desenvolvedores de jogos, para que realmente consigamos classificar os games como cultura.

Mercado de games poderia gerar muito mais lucro para o Brasil se fosse regularizado

E qual a situação atual do mercado brasileiro de games?

É muito difícil até conseguir números nessa área. O contrabando é muito grande e os poucos pesquisadores sérios dessa área têm dificuldades em conseguir números precisos. Temos uma carga tributária excessiva, os políticos têm um descaso enorme com os games. O Brasil não leva a sério os games, daí a dificuldade de se encontrar investimentos. Nos EUA e na Europa, o mercado está saturado e o lugar onde mais há espaço para a expansão é aqui no Brasil.

Para o jogador e para o usuário comum, logicamente, as promoções são um dos principais atrativos. Mas como está a situação do projeto Jogo Justo junto à classe política, que é onde efetivamente poderemos perceber algumas mudanças a longo prazo?

O problema é que mudou a política, com os novos deputados que assumiram. E nós só temos um tiro e ele precisa ser headshot. Estamos estudando quem são as pessoas responsáveis para que possamos mostrar dados confiáveis da importância dos games. Por isso é fundamental que o Dia do Jogo Justo seja um sucesso e tenha um grande hype na mídia.

Quanto mais atenção atrairmos, melhor para o projeto. Queremos mostrar aos governantes que esse é um mercado lucrativo e o Brasil há muito tempo perde dinheiro. Estamos pelo menos dez anos atrasados.

Jogos a preços acessíveis é uma das propostas do movimento

Qual a sua opinião sobre o Steam? Você vê a possibilidade de termos lojas brasileiras oferecendo um serviço similar?

Acho o Steam uma coisa muito boa, uma tendência de futuro. Mas infelizmente o Steam não é nacional. Na prática é uma importação. Para o usuário é ótimo, mas para o Brasil é péssimo. É por isso que pensamos em uma Associação.

Vamos revelar detalhes sobre ela no dia do evento, mas seu propósito será justamente o de fazer com que todos ganhem: consumidor, distribuidor e lojista. Mas para que todos ganhem é preciso haver uma mudança de mentalidade também por parte do jogador. Temos que deixar de querer levar vantagem em tudo. Pagar um preço justo faz com que todos ganhem. Baixar jogos piratas como protesto não ajuda em nada o mercado, pelo contrário.

A mudança tem que começar dentro de você. E o movimento está conseguindo isso. Nunca esqueço do dia que um português escreveu no site da Microsoft que tinha vergonha do país dele não ter um movimento como esse que existe no Brasil. E olha que o preço dos jogos deles é muito menor.

Jogos violentos como Splatterhouse seriam criminalizados pela nova lei

Como você avalia o projeto de lei 170/06, proposto pelo senador Valdir Raupp, que pretende criminalizar o comércio de jogos de videogame ofensivos ou violentos?

Primeiro, o deputado não tem noção nenhuma do que está fazendo. Lógico que os jogos devem ter uma classificação etária, mas proibir só vai fazer com que eles se tornem sucessos na ilegalidade. O problema da violência está nas pessoas, não nos jogos. Eu tenho 38 anos, gosto de jogar games violentos, e nunca sai dando tiro na cabeça de ninguém por conta disso. Um deputado como esse deveria fazer o que fiz: estudar antes de propor qualquer besteira.

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